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domingo, maio 22, 2005

Não sei se será o fim da "nossa" paixão, mas é de certeza um intervalo, até que as coisas possam "continuar"....

Não sei se terão "paciência" para ler até ao fim, mas quanto a mim, deviam. Isto "resume" o que por aqui (e por "aí") se tem passado, e do que tenho falado ao longo destes meses de "Blog".

Até sempre....por aqui, ou não....e "obrigado" aos que por este cantinho se interessaram...

Beijinhos
hugo


"CÉU NO CORAÇÃO"

O céu está no coração porque é o coração quem ama, quando parece que é alguém que o faz amar. É o coração que se apaixona. A outra pessoa é apenas a coisa que o fez apaixonar. Toda a gente tem um coração, um amor, uma pessoa em que esse amor pode morar. Ou não. Mas a outra pessoa é só a casa. A vida somos nós. E nós podemos viver sem casa toda a vida. Sozinhos, sob a noite cheia de estrelas ou de chuva, ninguém nos pode tirar o coração que temos, nem tentar mudá-lo ou encolhê-lo para ele poder caber. Podemos ter o coração tão grande que não haja pessoa onde possa caber. O amor é o que se quer e o que se sonha. Não é o que se tem e o que se vê. O amor não é uma reacção à realidade. É outra realidade à parte.

QUEM PRECISA NÃO AMA

Céu no coração, mesmo quando o céu é muito escuro. Mesmo quando o céu é muito escuro, é céu. É diferente do tecto do quarto e da escuridão. Tudo o que me maravilha me dá razão. O meu amor é tanto a pessoa que amo como o meu próprio amor. Não me importo de não saber distinguir entre uma coisa e a outra. A suposta verdade acerca de quem se ama, da razão por que se ama, das consequências de como se amou, nada importam ao pé da brutalidade que é o aparecimento e a continuidade desse amor. Quem ama não pode cair na ganância do mundo. Não pode esperar dividendos e recompensas de um sentimento que é já em si o maior valor que há. Amar é viver num estado de graça, por muito triste que ele venha a ser. É sinal de desamor querer paz, sossego, sabedoria, ou felicidade. Todas estas coisas, se puderem ser alcançadas, não são consequências do amor. Fazem parte de outra realidade. Quando muito são resultados de grandes esforços e de circunstâncias favoráveis, de questões subjectivas de entendimentos e compatibilidades, simples efeitos do acaso e do trabalho. Céu no coração. Primeiro, vem o amor. Primeiro, a sorte de só amar, e só depois a alegria de ser amado. As pessoas mesquinhas querem que o amor seja útil. Querem companhia. Querem ajuda. Querem garantias. Apaixonam-se pela pessoa de quem precisam em vez de precisar da pessoa por quem se apaixonaram. Precisar de alguém tira verdade aoamor. Amar não é precisar. É querer.É querer dar e ter e estar e conhecer. Não é não poder passar sem a pessoa amada. O amor-vício é uma merda de amor. Quando se está longe de quem se ama o que se sente não é desespero nem aflição nem necessidade - é dor e medo, pena e saudade. Amar alguém não é exigir que ela nos tire a tristeza ou nos ajude a resolver os problemas. O sonho de quem ama com todo o coração é tão-somente amar e ser amado. Precisa-se de respirar, de comer, de do rmi r. Quando s e t em s ede , precisa-se de água. Quando se está doente ou se é viciado, precisa-se de drogas. As coisas de que precisamos são sempre banais. O amor não é banal. Não é um remédio. É outra doença. Não é uma solução. É um novo problema.

AMAR É SER PERFEITO

Céu no coração e é escusado saber porquê . Amor é coisa que se mantém indescobrivel, preso no peito e protegido por tudo que temos, a começar pela inocência e pela estupidez. Analisá-lo é matá-lo. Usá-lo é rebaixá-lo. Liga-se de mais á pessoa que se ama. Porque é que ela há-de ser assim tão importante? Não há ninguém que mereça um amor verdadeiro. As pessoas são tão imperfeitas. Cedem tanto. Fazem tantas asneiras. São demasiado humanas. São rascas. A unica propriedade divina que lhes é dada é o amor. Como ninguém merece ser amado, toda a gente merece amar. Quando alguém nos ama perguntamos " Porquê? " e não sabemos. Sabemos que não merecemos ser amados. Mas quando amamos, amamos como um facto, como sermos altos ou baixos, e não faz sentido perguntarmos porquê. É na ausência que o amor é maior. É na distância que cresce. Quando alguém mor re o amor torna-se eterno. Quem ama de verdade vê morrer o seu amor à sua frente e quase não dá pela diferença. Assiste à maior deslealdade e desilusão e consegue desligar-se dessa pessoa sem se desfazer do amor que sente por ela. Dizem que amar alguém é amar tanto os defeitos como as qualidades. Mas isso são tretas inventadas para fazer caber a grandeza do amor na miséria da vida. Amar alguém é julgá-la perfeita. Diferente de toda a gente. Num sentido profundo, por muitos pequenos e grandes defeitos que possa ter, o nosso amor é melhor que todas as pessoas, e muito melhor que nós. Claro que ela não é. Mas para o nosso amor, no nosso coração, é. É o amor que é perfeito, não o amado, nem o amante. É aquilo em que se acredita que é bonito. É o que se deseja que é bom. O ser humano é assim-assim — a única coisa que tem de lindo é o coração. Quando se ama, não se pode aceitar nada contra o nosso amor. É preciso pureza e força e paixão e sinceridade. As relações humanas deixam muito a desejar. As pessoas têm tendência para serem egoístas, mentirosas e desleais. Para nos protegermos e não morrermos sozinhos tentamos explicar e aceitar estas coisas. Mas fazemos mal. Mais vale fugir de quem nos fez mal, para não lhe fazer mal também. Mais vale acabar com quem se ama para poder continuar a amá-Ia. Porquê? Porque ao sujar o amor, ao reduzí-lo à nossa própria pequenez, perdemos o valor da nossa vida.

O AMOR VAI CONTRA A VIDA

Perdemos o céu no coração. Como quem diz, depois de uma desilusão: Eu sei que estou a exagerar. A reagir “mal. Mas eu quero esta pureza no meu coração, esta intolerância da mais pequena coisa, esta incompreensão de tudo o que me magoa, esta ansiedade de um amor em ascensão permanente à perfeição. Sei que estou a fugir. Que não me sei explicar. Mas quero guardar este terror de ser atingido pela sujidade do mundo. Tenho de guardar a ideia que trouxe de pequenino, de duas almas agar radas uma à out ra, vivendo num estado de amor de onde nunca se queiram ou possam sair, que nada tenha de fechado ou de pequeno, por ser alto e aberto e difícil de descrever, como a imagem de um anjo e de uma menina a voar. Se o mundo não deixa é o mundo que está mal. Se a vida não se adequa, é a vida que está errada. Antes vender por uma bagatela tudo o que se tem de mais valioso — a honra, o corpo, os ideais — que trocar um coração puro, um coração selvagem a ferver de raiva e de carinho e de fé, por coisas boas e baixas, como a paz e o entendimento e a companhia e a felicidade. O amor é maior que as pessoas. Ninguém merece ser amado mas toda a gente, mesmo o maior sacana, merece amar. O coração que ama mostra que não é apenas carne. O coração que é amado só mostra o coração capaz de o amar. O coração que se quer entregar mostra que se entregaria mesmo que nada recebesse em troca. Como é incerto e pequeno o valor da pessoa que se ama, é certo e grande o amor que se sente. Mesmo quando nos apaixonamos pela pessoa mais desprezível do mundo ficamos a dever-lhe o amor que ela nos deu. Não o amor dela, que pode nem existir, mas o nosso. Foi graças a ela que conhecemos o estado puro do amor, que juntamente com o amor a Deus, é o único que nos afasta da insuportável banalidade da nossa existência. Ela pode ser tão desprezivel que nem sequer mereça saber que a amamos. Pode ter-nos desiludido a tal ponto que nunca mais lhe mostremos a cara. Mas foram aqueles olhos feios, aqueles gestos estúpidos, aquela maneira de falar tão igual à de toda a gente, que nos conduziram ao centro do nosso coração. E nos fizeram amar.
O AMOR LIVRA-NOS DE NÓS

Com o céu no coração. a pessoa por quem nos apaixonamos pode ser como uma estrada cheia de pedregulhos e lixo pela qual vamos tropeçando e caindo, magoados e incertos do caminho, que acaba por nos levar à paisagem mais bonita do mundo.Quando uma pessoa ama, esquecese de si. Amar é uma perdição. Uma pessoa perde-se dentro de si mesma, de tanto procurar outra. Ao fixar-se num destino desconhecido, esquece o caminho por dentro da sua alma, que pensava saber de cor. Quem ama interrompe o seu egoísmo natural (nem que seja por minutos). Uma pessoa que ama vê-se livre de si mesma. É por isso que o amor é um alívio, de paragem, de sossego, que é sentirmo-nos momentaneamente livres do nosso peso. É estarmos tão deslumbrados com outra pessoa que somos capazes de ver a merda que realmente somos. A outra pessoa ocupa-nos tanto, e cria em nós uma tal vontade de lhe dar tudo o que temos, que não resta nada de nós para nos ocupar. É por isso que o amor que nos prende acaba por ser uma revelação de quem somos e um acto de soltura que se parece com a euforia da liberdade. Com o céu no coração, só quem se entrega tem a felicidade de se sentir quase inexistente, insignificante, sem nada neste mundo, desamparado e sozinho mas com a alma agradecida e grande.

O AMOR QUE MATA PARA NÃO MORRER

Céu no coração, com a última réstea de azul. É grande o coração que consegue amar outro, apesar do que são os dois. Só por amor se pode amar uma pessoa inteira até ao corpo. Só pela sublime estupidez do amor é possivel passar horas a pensar num pescoço, num sinal nas costas, no arco dum pé. Céu no coração, mesmo no coração de quem nunca foi amado. O amor e quem não: tem outro amor é uma obra de Deus. Foi feito para ser o mínimo indispensável para viver. Suficientemente imune à própria vida. Há quem tenha a grandeza de amar e mostrar o seu amor sem atenção à resposta de quem é amado. Mas as pessoas normais, que não são capazes de sofrer sem esperança de uma futura fel icidade, devem guardar o amor que sentem, sem deixar que mais ninguém o estrague. Muitas vezes a pessoa amada é a maior inimiga do nosso amor. Muitas vezes é ela a assassina do que fez nascer em nós. Mesmo com o céu no coração, muito acima das coisas do mundo, é ela a única capaz de nos fazer cair à realidade, à existência comum: que ela própria interrompeu, à escuridão do dia-a-dia, à vida sem alívio de quem tem os dois pés assentes no chão, para onde a alma e o corpo vão parar. Mais vale fingir que ela não existe. Mais vale não acreditar no que vêem os nossos olhos. Um amor sozinho vale mais que amor: nenhum. Às vezes é preciso matar quem se ama, para não morrer o amor que se lhe tem.



Texto de Miguel Esteves Cardoso

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A estas horas a postar?

22 maio, 2005 02:12  

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